domingo, 1 de março de 2020

A Cobra de Fogo


Hoje eu vou contar para vocês o maior susto que levei na minha vida. Juro! Foi um susto tão grande que até pensei que fosse morrer. Vocês não acreditam? Mas é verdade! A Joana e o Paulinho podem confirmar tudinho! É, eles também quase morreram de susto. Foi uma aventura assustadora. Vou contar:

Teve um feriado bem grande, acho que era feriado da Independência, não, acho que era da República. Eu sempre me confundo com esses dias! Mas, sei lá, foi um feriado bem grande, então, meus pais resolveram visitar os parentes lá do interior, para eu não ir sozinho, pedi para minha mãe deixar a Joana e o Paulinho ir junto com a gente. Ela deixou.

Eu não queria ficar sozinha brincando com os primos João e Antônio, eles sempre arrumavam um jeito de me levar pra mata e me dar um susto. Dessa vez, a Joana e o Paulinho podiam me ajudar. Quem sabe a gente não conseguia dar um susto neles? Que nada! Acabou todo mundo levando o maior susto!

Chegamos e eu tive que passar por toda aquela encheção de novo: Veio o tio e puxou a minha bochecha e disse: “Que menina mais linda!”, a tia veio e disse: “Como cresceu essa menina!”. Mas já nem me importei como isso. Ainda bem que dessa vez os primos estavam na sala e chamaram a gente logo para ir lá pro quintal.

O Antonio e o João levaram a gente, primeiro para dar comida para as galinhas e depois pro Chicão. Nossa! O porco ainda mais gordo. Parecia que ia explodir!

- Ô, Antonio, esse porco vai explodir!
- Vai nada, Helena!
- Aqui tem rio? Disse o Paulinho.
- Tem sim! Respondeu o João!
- Você não me falou que tinha tanto mosquito aqui, Helena! E é fedido!
- Mas sua amiga é fresquinha, hein Helena?
- É nada, Antônio! É que ela tem medo de tudo.
- Inton vai morrê aqui! Começou a rir o primo João.

Não demorou muito tava todo mundo rindo da Joana, que ficou emburrada e saiu em direção à mata.

- Não! Ela não pode ir naquela direção! Disse o primo Antônio!
- Joana! Volta aqui, Joana! Era brincadeira!
- Inda mais agora que já anoitecendo.

O Paulinho saiu correndo em direção à mata atrás da Joana. Os primos pediram para eu esperar que eles iam buscar umas coisas, se caso a gente demorasse pra voltar. Trouxeram uma mochila com água e umas lanternas. A noite caiu de repente. Tudo ficou escuro. Não tinha estrela, nem lua no céu.

Os primos foram na frente e eu fui atrás deles, já não tinha mais nenhum sinal da Joana e do Paulinho. Os primos acenderam as lanternas e a gente foi caminhando, caminhando.

- Joana! Paulinho!

Era um silêncio só, nem bicho tava fazendo barulho. Os primos se olharam e vi que eles estavam morrendo de medo. Então fiquei apavorada. Se os primos estão como medo, o quê será que tem dentro daquela mata?

A gente foi entrando, ate que os primos iluminaram um lugar. Deu pra ver a  Joana sentada em um tronco de árvore conversando com o Paulinho. Vocês acreditam que ela ainda estava chorando? É, mas a gente não devia ter rido dela. Não eu! Ela é minha melhor amiga. Então fui correndo na direção dela, sentei no tronco do lado dela e pedi desculpa. Os primos começaram a provocar a Joana e eu logo dei uma bronca.

- Chega com essa brincadeira! Já achamos a Joana agora vamos voltar.

Aí é que começou a aventura que eu nem esperava viver naquela noite. Para começar, as pilhas das lanternas dos primos, acabaram. Ficou tudo uma escuridão. Só dava para ver os olhos da gente. A Joana logo se sentiu culpada.
Mas, eu não podia deixar ela se sentindo culpada, afinal foi a gente que começou.

O Paulinho teve ideia de usar a lanterna do celular dele. Também só durou até os primos conseguirem arranjar uns galhos para fazer uma fogueira. Foi só acender a fogueira que a bateria do celular do Paulinho acabou.

- Agora com a fumaça, os pai acha a gente. Disse o primo Antônio.

Então a gente se sentou em volta da fogueira, porque já tava ficando muito frio, foi aí que, de repente, aquele tronco que a Joana e o Paulinho tavam sentado, começou a se mexer, foi ficando transparente, com uma iluminação maior que a luz da fogueira.

- Nossa senhora! É o Boitatá! Gritou o primo Antonio.
- Não olha! Não olha! Não olha senão vocês vão ficá cego! Disse o primo João.

Era uma cobra de fogo! Ela parecia que tava bem zangada. Todo mundo ficou com os olhos fechados e parados.

- Mas se ela vier atacar a gente? Disse a Joana morrendo de medo.
- Se tiver um facão aí, me dá, que pico essa cobra em mil pedaços. Disse o Paulinho.

Como a gente ia sair dali? A gente não podia olhar senão ficava cego. Foi aí que eu me lembrei da aula do Folclore. O Boitatá é uma cobra de fogo que protege a floresta e ataca quem tenta colocar fogo na mata. Mas, é uma lenda. Não podia ser real. Só que era, e tava ali, na nossa frente. Iluminando a mata. Foi então que eu gritei:

- Vamos apagar a fogueira! O Boitatá pensa que a gente tá colocando fogo na mata. Por isso quer atacar a gente!

Mas, como a gente ia apagar aquela fogueira? Aquela cobra ia acabar pegando a gente. Não tinha jeito! De repente só escutei um barulho de água e a fogueira apagando. Os meninos fizeram xixi em cima da fogueira e apagaram o fogo.

- Podem abrir os olhos, meninas! Acabou o fogo! Disse o Paulinho

Aquilo só podia mesmo ter sido ideia do Paulinho. Quando a gente abriu os olhos, não tinha mais nada, nem fogueira, nem Boitatá, só a escuridão e os nossos olhos brilhando. Foi um susto tão grande que quando tudo acabou, eu e a Joana caímos no chão.

Só me lembro da gente acordando no quarto no dia seguinte em que a gente chegou à casa dos tios. Mas, vocês não fiquem pensando que foi tudo um sonho meu, não! Foi tudo de verdade, viu? Podem perguntar pra Joana e pro Paulinho que eles vão confirmar tudinho!

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